Bento Gonçalves - Caminhos de Pedra no sul do Brasil
- Jeancarlos Marmentini
- 17 de jun. de 2021
- 7 min de leitura

Se tem um estado no Brasil que se assemelha e muito com a cultura, o relevo, o clima da Europa, especialmente a Itália, este lugar é o Rio Grande do Sul. Um estado com uma área de 281.748 km² (cerca de 3% do território brasileiro) e uma população em torno de 11,29 milhões.
Em comparação de tamanho o Rio Grande do Sul equivale ao Equador aqui no continente americano. Na Europa, o estado dos gaúchos é um pouco maior que o Reino Unido: 244.820 km² e um pouco menor que a Itália: 301.230 km².

No conteúdo de hoje vamos mostrar algumas das particularidades que fazem de Bento Gonçalves na serra gaúcha/RS um dos locais mais visitados do Brasil e não só no inverno (junho, julho e agosto), mas o ano todo.
Hoje vamos falar sobre o roteiro dos Caminhos de Pedra.

Bento Gonçalves é um importante polo industrial e cultural da região da serra gaúcha.
É uma cidade que tem orgulho em preservar a cultura italiana. Por isso, o município criou um roteiro de atrativos turísticos ligados a uva e o vinho.
Na entrada da cidade de Bento o turista visualiza um monumento conhecido como a Pipa Pórtico.

A pipa tem 17m de altura e foi construída em 1985 com uma mensagem bem singela para quem chega na cidade: “você está entrando no mundo do vinho”. De fato, a rota dos Caminhos de Pedra é um antigo roteiro que ligava Caxias do Sul a Bento Gonçalves na serra gaúcha e ótima para conhecer.
A rota foi idealizada pelo engenheiro Tarcísio Vasco Michelon e pelo arquiteto Júlio Posenato. O roteiro resgata, preserva e divulga a cultura dos imigrantes italianos que chegaram na Serra gaúcha a partir de 1875. Esse roteiro é pioneiro no Brasil em turismo rural e cultural e recebe por ano mais de 60 mil turistas.

A rota Caminhos de Pedra foi organizada por uma associação que leva o mesmo nome e oferece apoio e estrutura para os moradores do lugar.
Com mais de 100 associados, a rota oferece 15 pontos de visitação e mais de 40 pontos de observação. São locais para apreciar o modo de vida, a gastronomia, a arquitetura e as belas paisagens nesse cantinho da Serra gaúcha.

Cantina Strapazzon: um dos locais mais visitados e que ganhou notoriedade nacional é o da propriedade da família Strapazzon. A casa foi construída em 1880 e por guardar as características originais, o local serviu de filme. A antiga moradia aparece no longa-metragem O Quatrilho, produção de 1995 do diretor Fábio Barreto.
Uma curiosidade é que as pipas originais centenárias foram retiradas da casa porque no lugar foi construída a cozinha para os atores contracenarem.
De acordo com a Inês Strapazzon que é guia no local, a antiga casa de pedra tem mais de 130 anos e se mantém praticamente na sua originalidade. “Para o filme O Quatrilho a gente fez algumas mudanças para compor o cenário da cozinha conforme solicitou a produção do filme.
Os barris foram desmontados por que eles não passavam pelas portas. A parte de baixo virou cozinha e em cima com móveis de época fizeram o cenário do quarto” disse ela e acrescentou, “a cena do quarto que aparece no filme foi gravada no sótão da casa e o chão de terra está exatamente como era, lá no século XIX” destacou a guia.
Segundo inês a família viveu por oito anos nestas condições. Esta casa é a segunda construída, a primeira queimou em um incêndio acidental, razão que fez os proprietários imigrantes construírem está aqui de forma apressada, sem argamassa, apenas com pedras e esterco de animais para dar a liga.
No inverno a família dividia o lugar com os animais domésticos para enfrentar o rigoroso inverno gaúcho, naquela época o local era cercado de mato por todos os lados.


A casa de pedra da família Strapazzon recebe muitos turistas do Brasil inteiro e até do exterior. Eles provam o vinho local feito de uva Isabel que é uma uva criada na serra gaúcha trazida dos Estados Unidos.
As uvas nativas da Itália que os imigrantes trouxeram não vingaram nesta região do país porque elas tinham uma doença chamada Pérola da Terra. Então, a saída foi aceitar as doações de outra variedade de uva do governo brasileiro.




Hoje com a rota o local é utilizado para o comércio dos produtos produzidos pela família como queijo, salame, copa, grapa (espécie de aguardente feita de vinho), suco de uva, vinho colonial e muito mais.
O Caminhos de Pedra é um roteiro rico em história, com oferta de atrativos saborosos.
A gastronomia italiana é famosa mundialmente e em Bento Gonçalves são muitas as opções para comer bem agradando todos os bolsos.

Restaurante Nona Ludia: um dos locais mais visitados na rota é o restaurante Nona Ludia. O casarão foi o primeiro lugar restaurado pelo projeto.
Os primeiros imigrantes italianos chegaram em Porto Alegre em 1875 e foram destinados para o lote 19 (Bento Gonçalves). Quando chegaram não encontraram nada. Era tudo mato fechado, animais selvagens, uma terra rica, mas de difícil trabalho e com a necessidade de construir rápido uma moradia para dar segurança a mulher e filhos.
Por isso, foi um hábito por um tempo naquele período, ter famílias vivendo em locais inusitados como uma árvore.

No pátio do restaurante Nona Ludia está até hoje e em ótimo estado, uma árvore de Umbu, conhecida também como Maria Mole e que por ter uma boa estrutura, com raízes grandes e de fácil manuseio, acabava virando refúgio para as famílias enquanto as casas eram construídas.

Nesta árvore viveram por dois anos um casal com dois filhos.
Enquanto a casa de pedra basalto era construída pelos homens, as mulheres faziam o preenchimento das paredes com barro e às vezes esterco de animais.
De acordo com a proprietária do restaurante, Graziela Cantelli, o casarão foi de várias famílias: Macalossi, Daláqua, Bertarello e agora Cantelli. Em 2003, ano que a família da Graziela iniciou a administração do restaurante, foi realizada algumas alterações.

A família passou a utilizar todos os cômodos do casarão. Antes a parte de baixo era comércio e os andares de cima moradia, agora, os três andares oferecem conforto, historicidade, ótima gastronomia e um ambiente que faz o turista voltar no tempo.
Os pratos do Nona Ludia são: uma entrada de tábua de frios, pão colonial (sendo esse pão feito em forma de barro e embaixo é colocado a palha de milho como era no tempo dos imigrantes). Tem ainda a tradicional sopa de capeletti, com o recheio de pien em recipiente (o verdadeiro recheio do capeletti). Salada verde, polenta frita, a tradicional salada de batata da nona, seguida de uma fartura de massas: espaguete, nhoque de batata, tortei, talharim (todas produções caseiras da família), acompanhadas das carnes: frango, vitela, picanha, leitão e aos domingos o cordeiro. Para complementar tem sobremesas de pudim de leite, sagu e o creme branco para acompanhar. No final cafezinho e o chazinho de boldo.

Casa Fracalossi: outro local dentre tantos que o Caminhos de Pedra oferece quando se trata de gastronomia é a Casa Fracalossi. Com um lindo espaço externo, perfeito para a degustação dos ótimos vinhos da região e isso acompanhado dos mais variados petiscos, tábuas de frios, mini bolos caseiros e expressos, faz do lugar um ponto de visitação que não pode faltar para quem vista Bento Gonçalves.
Outro detalhe é que o restaurante aceita pet. A casa tem um deck que é ideal para abrigar seu bichinho de estimação.
No Café da Colônia a casa foi a pioneira da região sendo os produtos 100% artesanais, feitos pela própria casa e por pequenos produtores do roteiro, porém, esta é uma oferta que no momento esta parada em razão da Covid-19.
Quanto ao almoço a casa oferece salada verde, polenta brustolada na chapa, queijo grelhado, pão colonial, penne, tortéi, espaguete, nhoque e risotos (são 4 variedades). Nas carnes é servido frango, costela suína e picanha.

Moinho Bertarello e a ponte do império: o moinho originalmente é de 1910, era todo de madeira e movido a roda d'água. Em 1953 foi construído outro neste local e que ainda está em atividade produzindo farinha de milho.
Ao lado do moinho tem uma ponte que foi construída no tempo do Império. Registros do governo gaúcho datam de 1883. A ponte tem 20m de extensão e é de um tempo que o meio de transporte era apenas carroças. Com o passar dos anos a antiga ponte foi deixada de lado e construída outra para o tráfego de carros e caminhões.

Parque da Ovelha: este é um dos locais mais procurados pelos turistas no Caminhos de Pedra. A Casa da Ovelha é uma estrutura de fazenda com laticínios, parque de vivências e muito mais. O parque tem atrações para envolver toda a família. No local o turista observa como é o trabalho no campo e também faz igualzinho.


Tem um espaço que é realizada a demonstração da falcoaria, o que seria isso? É a técnica aplicada nas aves de rapina para o monitoramento e segurança em aeroportos.

No parque da ovelha uma empresa terceirizada realiza demonstrações com as aves desde 2016, é um espetáculo que emociona e atrai a tenção de toda a família.
Outro momento muito aguardado especialmente pelas crianças é a hora da amamentação.


Os filhotes de ovelhas são soltos em um espaço definido para os turistas que com mamadeiras com leite de ovelha, dão de comer aos filhotes. São 700 ovelhas no parque, 80 cordeiros em amamentação.
As crianças também adoram a prática do Border Collie, que nada mais é do que um pastoreio de ovelhas. Border Collie é uma raça dos cães mais inteligentes que existe.


Na apresentação os cães trazem as ovelhas para perto dos turistas, para que eles acariciem, tirem fotos, tenham um contato mais próximo com os animais.
Essa demonstração acontece através de comandos do treinador com os cães. No Parque da Ovelha os comandos para a exibição do Border Collie são em dois idiomas, inglês e português. A razão do adestramento dos cachorros ser assim é porque eles foram treinados por pessoas e em locais diferentes.
No início a produção dos iogurtes, dos queijos, era feita no hotel Dall’Onder em Bento Gonçalves.
Após, essa produção foi direcionada para a casa localizada nos Caminhos de Pedra e em 2013 o Parque da Ovelha abriu aos visitantes para eles poderem amamentar os filhotes, visualizarem a ordenha, o pastoreio, a falcoaria e todas as outras ações.
A casa que abriga o laticínio é um convite a viajar no tempo. Ela foi construída em 1917.
O casarão mantém as características originais e o local conta com a indústria e o varejo. São processados por ano 250 mil litros de leite de ovelha que viram iogurte, doce de leite, queijos e Cosméticos.
Em torno de 80 pessoas visitam o parque nos finais de semana, durante a semana são de 30 a 40 pessoas por dia e na alta temporada o número passa de 100.
Dica: visite sozinho, com a família, mas visite o Caminhos de Pedra. Faça isso com calma para desfrutar de tudo que o roteiro oferece.
Estamos ainda com algumas restrições em razão da Covid-19.
Mas programe-se, entre em contato com os locais de visitação, converse com o serviço ao turista do Caminhos de Pedra, enfim, não deixe de conhecer.
O distanciamento será a regra nos próximos anos, assim como o uso de máscara, mas nada que impeça você de viajar, aprender, evoluir e crescer como pessoa.








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